sábado, 5 de janeiro de 2008

Um mortal entre os Imortais.

Dizem que “gosto não se discute”. Tentarei não falar de gosto aqui, embora seja bastante difícil manter a neutralidade. Mesmo já tendo passado alguns anos de sua eleição, ocorrida em 2002, para compor o quadro dos Imortais das Letras brasileiras, não me conformo com a eleição de Paulo Coelho. O que fez a Academia aceitá-lo?

Em minha reles opinião a Academia abriu mão da austeridade e abraçou alguém conhecido lá fora, com o simples fito de angariar prestígio internacional. Afinal, querendo ou não, Paulo Coelho está em quase todo o mundo (coitado do mundo...) e vende milhares de livros, além de estar na moda (é “elegante” dizer que leu O Alquimista ou O Diário de um Mago). Meu inconformismo, entretanto, está marcado pelo fato da Academia ter “vendido a alma”, pois deixou entrar em seus quadros alguém que só recentemente aceitou um revisor para seus textos – cheios de erros de sintaxe, diga-se de passagem –, um escritor (?) com livros cheios de falso misticismo, recheados de lugares comuns (ah, e tentativas de frases de efeito...) e com historinhas fáceis cujo final já se sabe desde o início. Enfim, autor de livros de auto-ajuda.

Há quem contra-argumente dizendo que entre os meus livros preferidos no orkut está Budapeste, de Chico Buarque e esse não é nenhuma maravilha. Bom, realmente o livro não é um clássico da Literatura Universal, mas tem seus préstimos. Aliás, é um livro no qual Chico corrige alguns dos erros cometidos em romances anteriores, ao contrário de Paulo Coelho, que insiste nos mesmos. Mais: Chico preza, desde Estorvo, pela descrição, sua marca. No tempo em que escrevia poesias – embora não ser bom escritor (sic), cheguei por duas vezes a ter meus poeminhas entre os dez melhores do concurso de poesias do CEFET-PE (e olha que havia muito mais de dez poemas concorrendo, hein?) –, o professor Ricardo Medeiros (organizador do evento e das coletâneas) certa vez, comentando um poema meu, afirmou que poesia era “imagem”... Taí, o Chico na frente de Paulo Coelho. E, no mais, a história é interessante. É um livro que te “prende”.

Aliás, essa “venda” não é a primeira. No caso de Zélia Gattai deu-se o mesmo: foi eleita não por seus méritos, mas por causa de Jorge Amado. Longe de mim afirmar que ela é melhor ou pior que qualquer Imortal dali – Paulo Coelho não conta –, mas elegê-la para ocupar o lugar do marido?! Oras, sua eleição não passou de uma homenagem a Jorge Amado e só. Fora isso, não sei se seria eleita em outra ocasião. O fato mais marcante, contudo, foi o de Mário Quintana: extremamente criativo e cheio de uma pujança poética sem igual, o poeta gaúcho foi preterido três vezes. A Academia aprontou ainda para o grande Manuel Bandeira: sua eleição foi ameaçada pelo simples fato da capa de um dos seus livros vir com o título “desmembrado”. Foi um escândalo!

Por fim, não acredito que Paulo Coelho caiba no mesmo balaio onde estão Carlos Heitor Cony, Alfredo Bosi, Moacyr Scliar, Ariano Suassuna, Evanildo Bechara e João Ubaldo Ribeiro, quem quiser que ache, eu não (mesmo sabendo que a diversidade é que constrói). Aliás, leitor (a), já me disseram que sou chato e eu concordo com isso.

Sem mais.

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