sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Novo endereço

Pessoal, estamos em novo endereço.

Acessem:


www.acessodireito.wordpress.com

sábado, 28 de junho de 2008

Sobre palavras e pensamentos (parte 1)


O que dizer após um beijo? Às vezes, nenhuma palavra nos socorre em momentos tão especiais... Estranho, não é? Há ainda de se considerar como nos expressamos. Às vezes, não existem palavras, digamos, prontas e temos que as inventar. Trago à lume dois exemplos fortíssimos (destacados): veja, primeiro, este poema de Manuel Bandeira:

Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
que traduzem a ternura mais funda
e mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.

Agora este trecho de Uma canção inédita, de Edu Lobo e Chico Buarque:

Se você beijar um outro, pode se partir
A valsa
Mas se roendo-as-unhasmente me quiser ouvir
Descalça no breu
Pé ante pé
Abra o peito bem devagar
E deixe
Sete notas a vibrar
E feche

Observem: no primeiro texto o sentimento do poeta é muito mais que amor (atentem: o sentimento, melhor dizendo, o verbo é intransitivo...). Entretanto, como expressar isso se não há uma palavra pronta, apta a mostrar tudo aquilo que ele sente pela amada? No segundo caso, não é apenas nervosismo, é um nervosismo de
roer as unhas, isto é, roendo-as-unhasmente. Fantástico!

Pois bem. Nesta postagem quereria conversar com vocês, queridos 5 leitores, não sobre beijos, mas sobre palavras e pensamentos. Afinal, como é que um pensamento se transforma em palavra? Como uma idéia ganha forma? Nem eu, nem os maiores estudiosos da filosofia da mente, sabemos. Sobre esse ponto, lúcido é o ensinamento de Sexto Empírico, em seu Contra os Matemáticos (os destaques são meus):

E, mesmo admitindo que seja concebido [o ente], não pode ser comunicado a outro. Com efeito, se os entes, os que existem fora de nós, são visíveis, audíveis e em geral perceptíveis, e destes os visíveis são captáveis com a visão, os audíveis com a audição e não o contrário, como é possível então manifestá-los a outro? Com efeito, aquilo com que manifestamos é a palavra, mas a palavra não coincide com os entes existentes. Portanto, aos outros não manifestamos os entes, mas a palavra que é diversa dos entes concretos. Então, como a realidade visível não pode se tornar audível e vice-versa, também o ente que se concretiza fora de nós não pode se tornar palavra nossa. Não sendo uma palavra, o ente não pode ser evidenciado a outro.”

É difícil dizer como se dá esse fenômeno. O mais certo, entretanto, é perceber a magnitude que ele tem. A linguagem tem o poder de criar e recriar fatos: quem nos relata o recria, o refaz para si, enquanto os ouvintes o criam mentalmente. Interessante, não é? Mais impressionante ainda é o conteúdo que damos às palavras. Você, caro leitor, já imaginou o porquê a palavra coisa, por exemplo, significa tantas coisas?

O Direito, assim como qualquer ciência Ética (Ética aqui entendida como a escolha da melhor assertativa entre duas, as quais são ambas possíveis, mas excludentes, qual a lição dada pelo prof. João Maurício, em sua Filosofia do Direito) marcada pela linguagem, não está imune a isso. Exemplos claros são as definições de homem médio, dignidade da pessoa humana, Estado democrátido de direito, só para citar os mais comuns. Observe que os exemplos dados tem alta carga de subjetividade e podem servir aos mais variados discursos e, neles, assumir os mais discrepantes (algumas vezes até contraditórios) sentidos. E é aí, meus caros, onde mora o perigo...

Semestre acadêmico passado (acadêmico, pois terminamos 2007.2 agora em 2008...) uma colega de turma apresentou em sua monografia um tema que ganhou força após os atentados de 11 de setembro, nos EEUU: o direito penal do inimigo. Segundo o entendimento do mentor dessa teoria, aqui comentada muito resumidamente, deveria haver dois códigos penais: um para os cidadãos, mais brando; e outro para os
inimigos, mais severo. Mais: tal direito penal deveria atuar antes dos delitos, isso porque os inimigos põem em risco o pacto social, ou, mais claramente, a sobrevivência da sociedade como tal. Mas, quem são os inimigos? Tal teoria, em um Estado totalitário, é por demais perigosa, uma vez que os inimigos”, melhor dizendo, a palavra inimigopode assumir qualquer conteúdo e pôr em risco (vejam só!) a própria sociedade.

domingo, 15 de junho de 2008

Será que você consegue?

Navegando pela Net, encontrei esse teste. Achei legal. Apesar do nome idiota, segundo a fonte de onde o retirei, apenas 1,2 % das pessoas que o fazem conseguem terminá-lo de prima. Que tal resolvê-lo?

Clique na imagem e boa sorte!






sexta-feira, 13 de junho de 2008

Dia dos namorados (parte 2)

Deixando de lado todo aquele blá-blá-blá de que a data só serve para as vendas, que dia dos namorados é todo dia etc. (as tirinhas do Calvin mostram isso), trago esse excelente poema de Manuel Bandeira. Na sua simplicidade, o mestre Manuel expressa todo o sentimento que há entre nós, enamorados: a admiração pelo outro. Feliz dia dos namorados (atrasado).

Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.

A moça olhou de lado e esperou.

- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listada?

A moça se lembrava:
- A gente fica olhando...

A meninice brincou de novo nos olhos dela.

O rapaz prosseguiu com muita doçura:
- Antônia, você parece uma lagarta listada.

A moça arregalou os olhos, fez exclamações.

O rapaz concluiu:
- Antônia, você é engraçada, você parece louca.

Dia dos namorados (parte 1)








quarta-feira, 21 de maio de 2008

Por que esse caso não foi à televisão?


Mais uma preciosidade extraída do blog do prof. Eduardo Rabenhorst

Cachorrinha morava no interior do Ceará. Tinha 4 anos. Quando o cheiro de comida se espalhava pelo ar, gemia, sem força, pedindo comida. Às vezes, ganhava. Outras, levava bronca. Um dia, agentes sanitários entraram na casa para fazer dedetização. Já no final da vistoria, um deles escutou um grito fraco, vindo na direção da cama.

Debaixo do colchão, sob várias peças de roupas, estava Cachorrinha. Não era um animal, mas uma menina que, desnutrida, estava quase morta. Sofria constantes ataques de violência física e psicológica por parte dos pais, que deram a ela o apelido pejorativo. O caso, relatado por profissionais do Centro de Combate à Violência Infantil (Cecovi), não é isolado. Nas últimas semanas, o Brasil ficou estarrecido com histórias de abandono, maus-tratos, infanticídio e tentativa de homicídio contra crianças. Pais que, em vez de proteger, representam aos filhos uma ameaça.

Estudos internacionais apontam que, em 70% dos casos, a violência infantil é praticada pelo pai ou pela mãe. Estatísticas do Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia), do Ministério da Justiça, confirmam a tendência. Das 496.398 ocorrências registradas de 1999 a 2005, 50% tiveram os pais como agressores. Depois da violação ao direito da convivência familiar, os casos mais citados são violência física e psicológica. Só em 2005, segundo dados preliminares do Sipia, foram registradas 70 mil ocorrências, o que significa uma média diária de 189 agressões.

Apesar de reforçar a informação de que o perigo está em casa, o Sipia não consegue retratar, numericamente, todos os casos ocorridos no Brasil. O sistema é abastecido pelos conselhos tutelares que, além de não estarem presentes em todos os municípios brasileiros, nem sempre recebem denúncias desta natureza.

Embora faltem pesquisas oficiais abrangentes, um diagnóstico elaborado pelo Laboratório de Estudos da Criança da Universidade de São Paulo (Lacri/USP), com dados coletados em hospitais, centros de saúde, SOS Criança, escolas e varas da infância, entre outros locais, identificou 129.495 casos de violência contra crianças de 1996 até o ano passado. Dessas, 32,1% eram agressões físicas, 16,1% psicológicas e 0,4%, ou 505 ocorrências, terminaram em morte. Em 2005, foram registradas 19.245 ocorrências.


Crueldade gratuita

Desde que me formei, vejo casos de pais que maltratam os filhos. Já vi criança que foi jogada na fogueira e na frigideira, com ruptura de órgãos e traumatismo por causa de chutes e cascudos, relata Lauro Monteiro, chefe do serviço de pediatria do hospital Souza Aguiar, do Rio de Janeiro.

Por receber diversos pacientes com sintomas de agressão doméstica, há 18 anos o médico fundou a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), organização não-governamental (ONG) que desenvolve programas de combate à violência infantil.

As causas dos maus-tratos infligidos aos filhos são variadas. O principal motivo é cultural. Os pais acham que o castigo físico é uma forma de educar, mas estão errados, ressalta Maria Leolina Couto Silva, coordenadora nacional do Centro de Combate à Violência Infantil (Cecovi), ONG que presta atendimento psicológico e jurídico às vítimas.

A advogada enumera outros fatores: abuso de drogas e álcool, fanatismo religioso e baixa resistência ao estresse. Segundo ela, de 20% a 30% dos casos de violência doméstica ocorrem quando os pais estão bêbados ou se drogaram. Maria Leolina também diz que religiões que interpretam a Bíblia de forma literal pregam o castigo físico para educar as crianças.

Há casos em que os pais alegaram que maltrataram os filhos porque um espírito maligno mandou. Despreparados, outros descontam na criança, o ente mais fraco da família, seus medos e frustrações. E são pessoas normais do ponto de vista patológico, diz. Estudos indicam que apenas 10% dos agressores têm distúrbios psiquiátricos.

Para Lia Junqueira, coordenadora Centro de Referência da Criança e do Adolescente (Crea), o atendimento prestado à vítima da violência deve ser cuidadoso. Se não houver um atendimento especial, a criança acaba sendo vítima duplamente da violência, diz Maria Leolina Couto Silva, coordenadora nacional do Centro de Combate à Violência Infantil (Cecovi).

Forró?

Repasso o texto do crítico musical José Teles sobre o “forró moderno”...

A música dos valores perdidos

“Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!”. A maioria, as moças, levanta a mão.

Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são “gaia”, “cabaré”, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.

O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhando uma música da banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de “forró”, e Ariano exclamou: “Eita que é pior do que eu pensava”. Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou.

Pruma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém o culpado desta “desculhambação” não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de “forró”, parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético. Pior, o glamur, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.

A cantora Ceca foi uma espécie de Ivete Sangalo do turbo folk (ainda está na estada, porém com menor sucesso). Foram comprados 100 mil vídeos do seu casamento com Arkan, mafioso e líder de grupo para-militares na Croácia e Bósnia. Arkan foi assassinado em 2000. Ceca presa em 2003. Ela não foi a única envolvida com a polícia, depois da queda de Milosevic, muitos dos ídolos do turbo folk envolveram-se com a justa pelo envolvimento com a poderosa máfia de Belgrado.

A temática da turbo folk era sexo, nacionalismo e drogas. Lukas, o maior ídolo masculino do turbo folk pregava em sua música o uso da cocaína. Um dos seus maiores hits chama-se White (a cor do pó, se é que alguém ignora), e ele, segundo o Guardian, costumava afirmar: “Se cocaína é uma droga, pode me chamar de viciado”. Esteticamente, além da pouca roupa, a sanfona é o instrumento que se destaca tanto no turbo folk quanto no chamado forró eletrônico, instrumento decorativo, ali muito mais para lembrar das raízes da música tradicional. Ressaltando-se que não se tem notícia de ligação entre bandas de “forró” e crime organizado. No que elas são iguaizinhas é que proliferaram em meio a débâcle de valores estéticos, morais, e éticos, e despolitização da juventude. Com a volta da governabilidade nas repúblicas da antiga Iugoslávia, o turbo folk perdeu a força, vende ainda porém muito menos do que no passado, hoje é apenas uma música popular para se dançar, e não a trilha sonora de um regime condenado por, entre outras lástimas, genocídio.

Aqui o que se autodenomina “forró estilizado” continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem “rapariga na platéia”, alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção ?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é “É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!”, alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

Em tempo: o texto foi extraído daqui. Preciosidade enviada por e-mail pelo amigo Ramon Rebouças.