Bom, mas o que é que isso tem a ver com o título da postagem? Quis criar aqui uma “desculpa” para, primeiro, apresentar o trabalho de um grande amigo, lá dos idos tempos da Escola Técnica, Vitorino Silva. Vitorino é estudante de Letras lá na UFPE e poeta, por “obrigação”, pois a poesia não pede, manda. A segunda é escusar-me de apresentar-lhe minha opinião diante de seus textos. Primeiro não tive tempo, como já lhes informei numa postagem anterior, e, segundo, pelo que lhes informei nos parágrafos anteriores: jamais descobrirei o que quis ele dizer e meu sentimento, diante dos poemas, será certamente diverso. Além do mais, se Umberto Eco estiver certo, o texto terá sua própria intenção e aí, amigos, jamais chegaremos a um consenso.
Sem mais delongas, apresento-lhes três poemas dele. Apreciem.
Sem Descanso
Corro
como um rio na chuva
Debalde
Inundo o tempo que me resta
com a perenidade insone da jornada
meu próprio leito me é estrada
e nessa marcha que enebria
me invade
a constante sensação de
curva
Curva que abrevia a visão
Visão distorcida pela chuva
Chuva que inunda a estrada
Estrada que obstrui a vida
Homem Combustível (Crime e Castigo)
Um homem que se propõe a andar na negra fumaça
Não percebe nada além
De sua cegueira e sufocamento
Quando, enfim, por algum motivo, a nuvem passa
Ele traz impregnado na pele o cheiro incendiado
Seu suor, cinzento
sua lágrima, carvão
Quando, no corpo, lhe escorre a água limpa
Aos seus pés, enegrecida,
Evapora em névoa de escuridão.
LISPECTOR
Escutar a palavra estranha,
cinzas de um sentido a mais,
foi finalmente encontrar
a luz que desespera,
o cativeiro que aconchega.
a palavra que é mister tatear,
acostumar-se.
(o talo da rosa no ouvido)
(o dragão chinês no intestino)
“a familiaridade que condena por insistir-se alheia”
a palavra mesmo
que remete a nada
e não precisa se explicar
a matéria bruta do silêncio,
presente, penetrante,
que, quando ignorada,
permanece latente
e sobretudo perpétua.
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