sábado, 2 de fevereiro de 2008

Para não dizer que não falei de carnaval (parte 1)


Não sei dançar
(Manuel Bandeira)

Uns tomam éter, outros cocaína.

Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.

Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
E por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir esse baile de terça-feira gorda.

Mistura muito excelente de chás...
Esta foi açafata...
- Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal:
Tão Brasil!

De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...
Há até a fração incipiente amarela
Na figura de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!

A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Para a crioula imoral.
No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros...
Mas ela não sabe...
Tão Brasil!

Ninguém se lembra de política...
Nem dos oito mil quilômeros de costa...
O algodão do Seridó é o melhor do mundo?... Que me importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!

2 comentários:

Unknown disse...

Namastê.
Uma frase dita pelo príncipe de Veneza no movie "Casanova" ilustra muito bem o que seja o carnaval: "é uma época na qual a Igreja fecha os olhos aos nossos pecados", isto é, quando a maioria aproveita para "fazer de um tudo", coisas que geralmente não têm coragem (nem a desculpa) de fazerem no cotidiano...Em contrapartida, talvez esse "descarrego" das tensões sexuais etc. seja necessário para a diminuição da violência indeed, hum, hum, hum...
Samadhi.

Anônimo disse...

Como sempre...
Usar Bandeira para expressar suas sensações...
Não é de hoje, mas é verdade...