Não sei dançar (Manuel Bandeira)
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.
Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
E por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir esse baile de terça-feira gorda.
Mistura muito excelente de chás...
Esta foi açafata...
- Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal:
Tão Brasil!
De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...
Há até a fração incipiente amarela
Na figura de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!
A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Para a crioula imoral.
No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros...
Mas ela não sabe...
Tão Brasil!
Ninguém se lembra de política...
Nem dos oito mil quilômeros de costa...
O algodão do Seridó é o melhor do mundo?... Que me importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Para não dizer que não falei de carnaval (parte 1)
Postado por Saulo Bandeira às sábado, fevereiro 02, 2008
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2 comentários:
Namastê.
Uma frase dita pelo príncipe de Veneza no movie "Casanova" ilustra muito bem o que seja o carnaval: "é uma época na qual a Igreja fecha os olhos aos nossos pecados", isto é, quando a maioria aproveita para "fazer de um tudo", coisas que geralmente não têm coragem (nem a desculpa) de fazerem no cotidiano...Em contrapartida, talvez esse "descarrego" das tensões sexuais etc. seja necessário para a diminuição da violência indeed, hum, hum, hum...
Samadhi.
Como sempre...
Usar Bandeira para expressar suas sensações...
Não é de hoje, mas é verdade...
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